quarta-feira, abril 11, 2007

@ (back to) the bookshelf



É curioso o efeito que os livros conseguem ter sobre mim, e a forma como a minha disposição se adapta às histórias que contam. Depois de algum tempo pousado na mesa de cabeceira, aí com umas 100 páginas corridas, Kafka esteve à espera que eu tivesse disponibilidade para ele, para o absorver, para me embrenhar nas suas histórias e nas personagens e o devorar, página atrás de página, como se não houvesse amanhã.

Conversei com gatos, sentei-me nos restaurantes a comer udon ou sushi, voei como um corvo por cima da floresta na fronteira entre os mundos, ri-me como uma rapariguinha de 15 anos e escutei vezes sem parar a canção da beira-mar.

O mundo que Murakami cria é simplesmente fora do meu normal: descreve-me emoções e situações que não imagino nos meus dias, fala-me de pessoas que penso que não existem, conta sonhos e receios que, apesar de tão parecidos, me parecem longínquos, vindos de um outro mundo.

O que me fascina em Murakami é que conta um mundo que não é meu, me entretém sem aderência com a minha realidade e, dificultando-me a identificação, me conquista palavra após palavra, personagem atrás de personagem.

Kafka à beira-mar é a história de um rapaz que foge à maldição que o pai lhe lança, uma rapariga de 15 anos que estará até à morte perdidamente apaixonada pelo seu namorado, um velhinho simpático que percorre o Japão na companhia de um jovem camionista e que, não sendo muito esperto, encontra o caminho certo nos momentos certos, um corvo, gatos, Johnnie Walker e o Coronel Sanders.

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